Sabe aquela pessoa que você, por alguma razão, sempre quer ajudar?
Liz tem esse comprometimento com quem gosta. Ela já teve longas conversas com uma pessoa em especial (que chamaremos de Jon), buscou ajuda externa e até mesmo investiu seu dinheiro em coisas que julgou importantes, como um curso, medicação e indicando bons profissionais, porque ele estava passando por dificuldades em determinado momento. Jon, por sua vez, mostrou-se sempre muito grato, mas colocando-se em uma posição de recebimento; era como uma via de mão única onde os papéis estavam claros: Liz ajuda, Jon recebe.
A recíproca, apesar da aparente gratidão, não existia. Na verdade, dava lugar a um sentimento de desconforto perante tal generosidade, mas Liz não percebia isso claramente, porque a vontade de vê-lo bem era mais forte.
Um dia, Liz precisou da colaboração de várias pessoas, porque estava arrecadando fundos para um projeto beneficente. Logo, em quem ela pensou para pedir qualquer valor em dinheiro? Sim, ela pensou em Jon. Afinal, o valor solicitado era irrisório, a situação era importante e, mesmo que não fosse, um pedido dela não seria negado pela pessoa que sempre fora alvo da sua mais sincera consideração.
Mas, qual não foi a surpresa de Liz ao receber a seguinte resposta: “Infelizmente não posso colaborar, porque a situação está muito difícil e realmente não tenho dinheiro. Tenho certeza de que você conseguirá. Muito sucesso pra você!”
Liz sentiu um misto de surpresa, dó e decepção.
Mas, dessa vez, algo diferente aconteceu. Foi como se a verdade tivesse vindo à tona e deixado claro o que antes era apenas uma suspeita: ela queria ajudar, mas será que Jon queria sua ajuda? Óbvio que não! Ele não somente não queria, como também se sentia desconfortável com as intervenções de Liz; ele não sentia gratidão, ele se sentia invadido e inferior. Mas por que ela chegou a esta conclusão? Porque se não fosse assim, ele a teria ajudado com qualquer quantia; a gratidão falaria mais alto.
Por isso a recusa em contribuir com aquela que parecia estar sempre pronta a ajudá-lo de alguma forma; por isso a sensação de vazio que Liz sentia logo após cada atitude solidária para com Jon. Não era recíproco, não era sentido do mesmo jeito e com o passar do tempo isso foi ficando cada vez mais claro.
Somos frutos de paradigmas que adquirimos nessa e em outras vidas; somos um mistério ambulante e nem sempre acertamos ao seguir nossos impulsos, mesmo que sejam nobres. Precisamos ter cautela, porque quando se trata de pessoas, tudo, tudo é possível.
Liz começou a se questionar e descobriu que, apesar de sua intenção ser a melhor, faltou-lhe a percepção de que nem toda a ajuda é bem vinda ou bem interpretada. Algumas pessoas sentem-se ofendidas quando são ajudadas, como se isso significasse desonra ou fragilidade; também notou que talvez estivesse negligenciando a si própria e esse é um erro muito mais comum do que se imagina; é um descuido que nos faz esquecer de que nós somos a pessoa mais importante para nós mesmos. Não é egoísmo, não é egocentrismo; é uma descoberta libertadora, porque somente a partir desse reconhecimento é que nos tornamos capazes de amar outras pessoas, verdadeiramente.
De posse dessa compreensão, Liz não se ateve a julgamentos inúteis. Muito melhor do que antes, ela aprendeu a ouvir sua voz interior, a não duvidar da menor sensação que sentir e a confiar plenamente na sua intuição… sempre.
@lucianacazaubon
LEARNINGS (1)
You know that person you, for some reason, always want to help?
Liz has this commitment to those she likes. She has already had long talks with someone in particular (which we will call Jon), sought outside help and even invested her money in things she deemed important, such as a course, medication and indicating good professionals, because he was experiencing difficulties in a certain time. Jon, for his part, was always very grateful, but putting himself in a receiving position; it was like a one-way street in which the roles were clear: Liz helps, Jon receives.
The reciprocal, despite the apparent gratitude, did not exist. In fact, it gave rise to a feeling of discomfort in the face of such generosity, but Liz did not realize it clearly, because the desire to see him well was stronger.
One day, Liz needed the collaboration of several people because she was raising funds for a charitable project. So, who did she think to ask for any money? Yes, she thought of Jon. After all, the amount requested was insignificant, the situation was important and, even if it were not, her request would not be denied by the person who had always been the object of her most sincere consideration.
But, what was Liz’s surprise when she received the following response: “Unfortunately, I cannot collaborate, because the situation is very difficult and I have no money, indeed. I’m sure you can do it. I wish you success! ”
Liz felt a mix of surprise, pity and disappointment.
But this time, something different happened. It was as if the truth had surfaced and made clear what was just a suspicion before: she wanted to help, but did Jon want her help? Of course not! Not only did he not want to, he was also uncomfortable with Liz’s interventions; he felt no gratitude, he felt invaded and inferior. But why did she come to this conclusion? Because if it were not so, he would have helped her with any amount; gratitude would speak louder.
That is why the refusal to contribute to the one who always seemed to be ready to help him in any way; so the feeling of emptiness that Liz felt right after each sympathetic attitude towards Jon. It was not reciprocal, it was not felt in the same way and over time this became clearer and clearer.
We are the result of paradigms that we have acquired in this and other lives; we are a walking mystery and we are not always right to follow our impulses, even if they are noble. We need to be cautious, because when it comes to people, anything, everything is possible.
Liz began to question herself and found that, despite her intention to be the best, she lacked the perception that not all help is welcome or well interpreted. Some people are offended when they are helped, as if it meant dishonor or fragility; she also noticed that she was perhaps neglecting herself and this is a far more common mistake than one might think; it is an oversight that makes us forget that we are the most important person to ourselves. It is not selfishness, it is not self-centeredness; it is a liberating discovery because it is only from this perception that we are able to truly love other people.
With this understanding in mind, Liz did not stick to useless judgments. Much better than before, she learned to listen to her inner voice, not to doubt the slightest sensation she felt and to fully trust her intuition … always.
@lucianacazaubon